quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Saudação quilombola ao povo brasileiro.

 Nós, quilombolas, somos os herdeiros de Zumbi dos Palmares, um
dos grandes heróis da história do Brasil. Somos ainda herdeiros de muitos outros heróis que perderam a vida em busca dos nossos
sonhos. Mas temos muito mais do que nos orgulhar. Nos orgulhamos da nossa história de luta e resistência. A luta pelo
direito fundamental ao território e pelo reconhecimento da nossa
identidade quilombola. Com nossa terra garantida, todos os demais direitos passam a ser respeitados e podemos viver com autonomia
e dignidade. Com direito à terra, nossos filhos podem crescer ao
nosso lado e contribuir para o fortalecimento da nossa comunidade
sem serem expulsos para as cidades, onde a violência e o racismo
são graves ameaças a todo jovem negro. Temos orgulho das nossas tradições culturais, das heranças dos antepassados que formam nossa identidade e contribuem para a
diversidade cultural brasileira. Nossas festas, danças, crenças, culinária e outras formas de expressões culturais são um patrimônio
do qual não abrimos mão e, temos certeza, torna o Brasil um país ainda mais rico. Também prezamos pelo nosso modo de vida tradicional, as formas
com as quais manejamos o território e nos relacionamos em favor do coletivo. Nosso manejo da terra se baseia no respeito ao meio
ambiente e na valorização da biodiversidade. A contribuição dos quilombolas para o Brasil inclui a produção de alimentos saudáveis para o consumo dentro e fora de nossas comunidades.Os territórios quilombolas contribuem para a preservação ambiental e isso é um serviço fundamental que prestamos para o Brasil e para
o mundo. Nesse momento em que o planeta enfrenta a maior crise
ambiental de todos os tempos, com as mudanças climáticas, é hora
de termos nossos conhecimentos tradicionais e modo de vida
valorizados. Ao longo da nossa luta conquistamos muitas vitórias, mas ainda
falta um longo caminho de justiça social para as mais de 5 mil comunidades quilombolas existentes em todo o Brasil. Apenas 172
delas estão tituladas e, ainda assim, muitas delas enfrentam
problemas de regularização fundiária. Isso tem que mudar. Não
apenas por uma questão de Justiça, mas da própria preservação
ambiental, riqueza cultural e garantia de alimentos para todos. Fomos arrancados de nossas terras na África e transformados em
escravos no Brasil. Conquistamos a liberdade com muito sangue
derramado e o direito a terra é nossa principal luta. Vamos perseverar até conquistarmos todos os nossos direitos. Porque o Brasil também é quilombola!


Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas
 Contato: conaqadm@gmail.com

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