O "caixa eletrônico" que distribui água
beneficia Christopher Furlong/GettyImages
Uma parceria público-privada entre o governo de Nairóbi, capital do
Quênia, e a companhia dinamarquesa de engenharia hídrica Grundfos resultou
na instalação de sistemas de distribuição de água limpa e barata em áreas
pobres da cidade, muito parecidos com caixas eletrônicos. Esta é a primeira
parceria desse tipo no Quênia, que já vinha recebendo projetos pilotos desde
2009. Segundo a empresa, desde o início do projeto, mais de 100 000 pessoas em
todo país foram beneficiadas e o plano é expandir o mesmo esquema para outros
países em desenvolvimento.
A máquina de abastecimento, muito similar a um caixa eletrônico, por
isso apelidada de "Water ATM", tem
duas principais vantagens: a facilidade de operação e o baixo preço de venda da
água. Três itens compõem o sistema de distribuição: a máquina central, ou
"caixa eletrônico de água", que fornece o recurso e controla as
transações de compra; um cartão de crédito inteligente, que pode ser
recarregado pelo celular ou pelo site da companhia; e um sistema computacional
onde são processados os dados daquele quiosque hídrico, como a demanda local e
a frequência de operações. A bomba submersível funciona à base de energia solar
e “produz” um metro cúbico de água por hora – um filtro é adicionado ao
distribuidor. Uma vez que o cartão é inserido na máquina e o consumidor indica
a quantidade de água que gostaria de retirar, a água cai automaticamente por um
cano até o galão.
A companhia de distribuição de água local em Nairóbi, Nairobi City Water
and Sewerage, informou à BBC que vende 20 litros água pelo preço
de 0,5 xelins quenianos, valor equivalente a dois centavos de real. Antes
da implementação do projeto, os moradores do subúrbio de Nairóbi compravam a
mesma quantia por 50 xelins – cem vezes mais do que as máquinas de
distribuição. Os chamados cartões inteligentes foram distribuídos de graça
aos residentes de Mathare, uma das maiores favelas da capital. A eles basta
carregá-los com a quantia desejada, sem limite de valor.
O distribuidor
de água da companhia Grundfos que lembra um caixa eletrônico
“Provamos que essas comunidades poderiam estabelecer um fluxo de
receita sustentável, já que os consumidores finais pagam pela água que
consomem, e assim ficam menos dependente do financiamento dos
doadores", disse a INFO Peter Todbjerg Hansen, diretor
administrativo da Grundfos, baseado na Dinamarca. “Os moradores não pagam a
Grundfos, eles pagam para os fornecedores de serviços de água”.
Andreas Kolind, gerente de vendas da Grundfos, informou a INFO que,
desde 2009, a empresa já instalou cerca de 150 "caixas" no
Quênia. “Seria possível ter projetos sustentáveis em áreas rurais e favelas
urbanas? A resposta a essa pergunta é sim" disse Kolind. Agora, seis
anos depois, ele disse que o custo do equipamento caiu em 85% em relação aos
protótipos e a empresa está em fase de crescimento. Até então, o projeto nunca
havia sido implementado em uma área urbana.
Quando a Grundfos lançar o produto comercial (oficialmente denominado
AQtap) a nível global, ainda sem previsão, os clientes é que vão determinar o
valor da água – mas nada muito mais caro do que o preço em Nairóbi. Como os
distribuidores podem ser conectados à rede pública de água local, será possível
construir uma rede de quiosques conectados entre si. Os AQtaps serão
vendidos a serviços públicos de água e ONGs, que poderão ter acesso a esses
dados para diversos fins. Cada unidade será vendida a um preço entre 4 000
e 5 000 dólares.
Kolind afirmou também que a empresa quer expandir parcerias para outros
países em desenvolvimento. “Nós sabemos muito sobre as necessidades na África
Subsaariana e da Ásia, mas precisamos estudar América do Sul antes de sabermos
para onde ir”, disse ele. “O Brasil está na lista a ser estudado”.
A ONU estima que cerca
de 700 milhões de pessoas em 43 países sofrem atualmente com a escassez de
água, sendo a África Subsaariana a região mais afetada do mundo. Além disso,
1,6 bilhão de pessoas – quase um quarto da população mundial – são atingidas
pela falta de infraestrutura necessária para retirar água de rios e aquíferos
adequadamente, sobretudo por motivos econômicos.
O sistema não é promissor apenas no Quênia, mas em outros países que sofrem
do mesmo problema. Segundo Kolind, os países da primeira fase de expansão são
Uganda, Tanzânia, Etiópia, Malawi, Zâmbia, Nigéria, Gana, Tailândia, Indonésia,
Filipinas, Índia e Bangladesh. “O plano é alcançar a vida de 10 milhões de
pessoas até 2020”, disse ele.
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