quarta-feira, 12 de agosto de 2015

"Caixa eletrônico" que vende água barata alcança mais de 100 mil pessoas na África


O "caixa eletrônico" que distribui água beneficia   Christopher Furlong/GettyImages
Uma parceria público-privada entre o governo de Nairóbi, capital do Quênia, e a companhia dinamarquesa de engenharia hídrica Grundfos resultou na instalação de sistemas de distribuição de água limpa e barata em áreas pobres da cidade, muito parecidos com caixas eletrônicos. Esta é a primeira parceria desse tipo no Quênia, que já vinha recebendo projetos pilotos desde 2009. Segundo a empresa, desde o início do projeto, mais de 100 000 pessoas em todo país foram beneficiadas e o plano é expandir o mesmo esquema para outros países em desenvolvimento.
A máquina de abastecimento, muito similar a um caixa eletrônico, por isso apelidada de "Water ATM", tem duas principais vantagens: a facilidade de operação e o baixo preço de venda da água. Três itens compõem o sistema de distribuição: a máquina central, ou "caixa eletrônico de água", que fornece o recurso e controla as transações de compra; um cartão de crédito inteligente, que pode ser recarregado pelo celular ou pelo site da companhia; e um sistema computacional onde são processados os dados daquele quiosque hídrico, como a demanda local e a frequência de operações. A bomba submersível funciona à base de energia solar e “produz” um metro cúbico de água por hora – um filtro é adicionado ao distribuidor. Uma vez que o cartão é inserido na máquina e o consumidor indica a quantidade de água que gostaria de retirar, a água cai automaticamente por um cano até o galão.
A companhia de distribuição de água local em Nairóbi, Nairobi City Water and Sewerage, informou à BBC que vende 20 litros água pelo preço de 0,5 xelins quenianos, valor equivalente a dois centavos de real. Antes da implementação do projeto, os moradores do subúrbio de Nairóbi compravam a mesma quantia por 50 xelins – cem vezes mais do que as máquinas de distribuição. Os chamados cartões inteligentes foram distribuídos de graça aos residentes de Mathare, uma das maiores favelas da capital. A eles basta carregá-los com a quantia desejada, sem limite de valor.



O distribuidor de água da companhia Grundfos que lembra um caixa eletrônico
“Provamos que essas comunidades poderiam estabelecer um fluxo de receita sustentável, já que os consumidores finais pagam pela água que consomem, e assim ficam menos dependente do financiamento dos doadores", disse a INFO Peter Todbjerg Hansen, diretor administrativo da Grundfos, baseado na Dinamarca. “Os moradores não pagam a Grundfos, eles pagam para os fornecedores de serviços de água”.
Andreas Kolind, gerente de vendas da Grundfos, informou a INFO que, desde 2009, a empresa já instalou cerca de 150 "caixas" no Quênia. “Seria possível ter projetos sustentáveis ​​em áreas rurais e favelas urbanas? A resposta a essa pergunta é sim" disse Kolind. Agora, seis anos depois, ele disse que o custo do equipamento caiu em 85% em relação aos protótipos e a empresa está em fase de crescimento. Até então, o projeto nunca havia sido implementado em uma área urbana.
Quando a Grundfos lançar o produto comercial (oficialmente denominado AQtap) a nível global, ainda sem previsão, os clientes é que vão determinar o valor da água – mas nada muito mais caro do que o preço em Nairóbi. Como os distribuidores podem ser conectados à rede pública de água local, será possível construir uma rede de quiosques conectados entre si. Os AQtaps serão vendidos a serviços públicos de água e ONGs, que poderão ter acesso a esses dados para diversos fins. Cada unidade será vendida a um preço entre 4 000 e 5 000 dólares.
Kolind afirmou também que a empresa quer expandir parcerias para outros países em desenvolvimento. “Nós sabemos muito sobre as necessidades na África Subsaariana e da Ásia, mas precisamos estudar América do Sul antes de sabermos para onde ir”, disse ele. “O Brasil está na lista a ser estudado”.
ONU estima que cerca de 700 milhões de pessoas em 43 países sofrem atualmente com a escassez de água, sendo a África Subsaariana a região mais afetada do mundo. Além disso, 1,6 bilhão de pessoas – quase um quarto da população mundial – são atingidas pela falta de infraestrutura necessária para retirar água de rios e aquíferos adequadamente, sobretudo por motivos econômicos.
O sistema não é promissor apenas no Quênia, mas em outros países que sofrem do mesmo problema. Segundo Kolind, os países da primeira fase de expansão são Uganda, Tanzânia, Etiópia, Malawi, Zâmbia, Nigéria, Gana, Tailândia, Indonésia, Filipinas, Índia e Bangladesh. “O plano é alcançar a vida de 10 milhões de pessoas até 2020”, disse ele.


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